Tempo de leitura: 9 minutos
Introdução:
“A resposta afetiva é a base da sensação de amar e sentir-se amado.” (Sue Johnson)
Quais seriam os passos mais importantes a serem dados na direção de criarmos um relacionamento amoroso maduro, seguro e adulto?
A Dra. Sue Johnson, nos ensina em seus livros que, “a resposta efetiva é a base da sensação de amar e sentir-se sendo amado“. E entendermos bem isso pode ser a linha-divisória entre o fracasso e uma vida-a-dois cheia de sucesso e bem-aventurança.
Pois a necessidade – ou a premência – dessa resposta afetiva se originou em fatos traumáticos da infância, tempo onde de fato éramos absolutamente impotentes para nos sentirmos seguros no mundo que pouco-a-pouco se erigia à nossa frente. Por falta de mecanismos de defesa mais evoluídos, a neurologia da criança que iniciava sua existência se percebia absolutamente vulnerável e aterrorizada.
E por ter ficado impresso para sempre no hipotálamo, em nossa neurologia límbica, esse senso de absoluta impotência e essa emoção de absoluto terror existencial contra a sensação de nos sentirmos deixados sozinhos e desamparados inevitavelmente transportou-se, então, para nossa idade adulta. De lá, até hoje emite seus sinais agudos de profundo desespero e de intolerável premência toda vez que percebemos que as pessoas que hoje nos são caras sinalizam afastamento, rejeição e/ou abandono.
Assim, passamos a inevitavelmente atuar pseudossoluções – dissimuladas e inadequadas como o seu próprio nome nos indica – que, bem lá no fundo de nosso ser, tentam restabelecer um qualquer senso de segurança e/ou de confiança que consiga servir de bálsamo para o sentimento de injustiça e indignação ao qual momentaneamente nos percebemos imersos.
Nas relações mais íntimas e afetivas – aquelas que são supostas acontecerem entre casais, entre familiares próximos e é claro, entre pais (ou cuidadores) e filhos – tais mecanismos afloram com habitual intensidade.
Lidarmos com elas é sabidamente desafiador e, portanto, faz parte da nossa jornada evolutiva pela vida. Envolve a percepção dos mecanismos defensivos que estas procuram continuamente criar e recriar. Entender seus danos e suas repetições nos levará a desenvolver maior plasticidade emocional e a aprofundarmos o nível de tomada de consciência dos danos que, através de contratos não proferidos, nos autoinflingimos nas relações adultas, relações estas que seriam supostas trazerem cura a esses mesmos sentimentos devastadores do passado.
Nesse trabalho, procuramos identificar os três grandes aspectos errôneos que nos impedem de ter a visão panorâmica do caminho evolutivo a ser traçado para chegarmos a situações mais prazerosas nesta arena dos relacionamentos afetivos.
PASSO #1: As emoções fortes que brotam no dia-a-dia dos casais não são, de forma alguma, irracionais. Elas sempre fazem perfeito sentido.
- Os parceiros agem como que se lutassem por suas próprias vidas.
- O isolamento e a potencial perda de um vínculo amoroso é codificado pelo cérebro humano como sendo uma atitude primal de pânico.
- A necessidade de um vínculo emocional seguro com algumas poucas pessoas amadas é uma atitude pré-programada para garantir sobrevivência.
- Quando agem através de algum estresse, os parceiros podem fazer uso de diferentes palavreados, mas sempre tentam obter resposta para questões bem simples:
- Você, de fato, está disponível a mim?
- Eu sou realmente importante para você?
- Caso venha a necessitar de você, posso contar como certo que você virá até mim se eu o chamar?
- É aterrorizante nos sentirmos subitamente desconectados
emocionalmente de nosso parceiro amoroso! Para que o nosso parceiro
nos responda, precisaremos nos reconectar e falar sobre nossas necessidades.- Essa necessidade de reconexão afetiva com as pessoas que nos sejam caras é prioridade emocional para todos nós. Ela superpõe, até mesmo, os impulsos para o sexo e para o sacio alimentar!
- O vínculo amoroso é a única segurança que a natureza nos oferece – do berço ao túmulo!
- Essa necessidade de reconexão afetiva com as pessoas que nos sejam caras é prioridade emocional para todos nós. Ela superpõe, até mesmo, os impulsos para o sexo e para o sacio alimentar!
PASSO #2: Emoções e necessidades de apego são o pano-de-fundo da atuação de interações negativas (os “Diálogos do Demônio“) – Elas jamais cessarão!
- Tão logo lhes pareça haver sido perdido o senso de estarem vivendo
um vínculo seguro, os parceiros imediatamente chavearão para o modo
de atuação ataque-parálise-fuga.- Culpabilizam/agridem um ao outro objetivando obter uma resposta qualquer vinda de seu parceiro ou, então, se fecham em si mesmos e fingem parar de se importarem um com o outro.
- Pois, na verdade, estão mesmo é aterrorizados com a senso de separatividade que os assola. Estão em pânico! Apenas, lidam com isso de maneira dissimulada.
- Quando disparam esse círculo vicioso de culpa/distanciamento em seu relacionamento afetivo, isso apenas confirmará seus medos e aumentará seu senso de isolamento.
- No entanto, as capacidades humanas de racionalização, assim como aquelas destinadas a criarem complexos arrazoados, jamais conseguirão modificar esse estado de pânico e de terror.
- Culpabilizam/agridem um ao outro objetivando obter uma resposta qualquer vinda de seu parceiro ou, então, se fecham em si mesmos e fingem parar de se importarem um com o outro.
- Nestes “Diálogos do Demônio“, a maior parte da culpabilização
será, na verdade, um choro desesperado para tentar sanar a sensação
aterrorizante da separação e da desconexão. Será apenas um protesto
contra tal desconexão sentida como eminente!- No entanto, uma vez neste estado de pânico, nada resolverá senão um movimento amoroso e emocionalmente direcionado à aproximação, que possa ser capaz de vir a ressignificar a união entre o casal.
- Sem uma ressignificação que traga de volta um caminho para a reconexão, o protesto continuará indefinidamente!
- Um dos parceiros continuará atuando sua luta (protesto) por algum sinal ou resposta amorosa.
- E o outro parceiro, ao perceber-se falho na oferta de amor, acabará por se sentir paralisado.
- Pois a imobilidade face ao perigo é a forma neurológica pré-gravada para lidarmos com a sensação de desamparo!
- Sem uma ressignificação que traga de volta um caminho para a reconexão, o protesto continuará indefinidamente!
- No entanto, uma vez neste estado de pânico, nada resolverá senão um movimento amoroso e emocionalmente direcionado à aproximação, que possa ser capaz de vir a ressignificar a união entre o casal.
PASSO #3: Apenas e tão somente os movimentos que estejam direcionados à vinculação segura é que poderão se tornar momentos-chave para a mudança!
- Só nestes momentos-chave de sintonia/vinculação segura/mútua, ambos os parceiros poderão ouvir/escutar o choro – às vezes, reprimido – da perda do apego existente entre um e outro e, então, responderem com acolhimento e cuidado amoroso.
- É isso que cristaliza a segurança do vínculo amoroso entre eles e que poderá vir a lidar com as diferenças inerentes à personalidade de cada um, com as feridas emocionais de cada um e, ainda, restabelecer a necessária confiança que terá a capacidade de trazer durabilidade ao relacionamento – de vencer o “teste do tempo“! Serão esses momentos-chave que:
- … moldarão a mutualidade da confiança e da segurança do vínculo amoroso existente e sempre crescente entre eles. E que poderão gerar mudanças verdadeiramente duradouras!
- … terão capacidade de prover resposta confiável e segura às questões:
- Você, de fato, está disponível a mim?
- Eu sou realmente importante para você?
- Caso venha a necessitar de você, posso contar como certo que você virá até mim se eu o chamar?
- É isso que cristaliza a segurança do vínculo amoroso entre eles e que poderá vir a lidar com as diferenças inerentes à personalidade de cada um, com as feridas emocionais de cada um e, ainda, restabelecer a necessária confiança que terá a capacidade de trazer durabilidade ao relacionamento – de vencer o “teste do tempo“! Serão esses momentos-chave que:
- Só quando ambos os parceiros aprenderem a falar sobre suas próprias necessidades afetivas e descobrirem que isso torna possível aproximarem-se um do outro é que cada momento-chave desses que enfrentarem fará com que o amor entre eles se fortaleça cada vez mais! Os parceiros, mutualmente:
- … tornam-se indivíduos mais fortalecidos e integrados.
- … criam espaço para que uma nova “dança“, mais agradável possa vir a ser ensaiada pelo casal.
- E, se os parceiros, mutualmente, souberem que:
- … um sempre estará disponível ao outro.
- … cada um deles considerará consistentemente o outro como sendo alguém especialmente importante.
- … em caso de necessidade, poderão contar que o outro sempre estará em contato afetivo para consigo …
- … poderão confiar no vínculo amoroso entre eles e isso criará/fortalecerá cada vez mais o valor-próprio de cada um dos indivíduos.
- … E será isso que fará com que o “mundo” lhes seja cada vez menos intimidador …
- … pois poderão contar um com o outro.
- … e saberão que não estarão sozinhos.
Conclusão:
Esses três passos nos oferecem um caminho – uma jornada – que permite tirar os parceiros do desespero e do lugar de constante atrito para uma solução de vinculação amorosa mais estável, duradoura e feliz.
Uma vez esses parceiros tenham entendido que todos os seus problemas e todos os seus dramas se desenvolveram por ainda estarem atrelados a relações infantilizadas de apego, perceberão ter em mãos, agora, um “mapa” mais abrangente que lhes traz mais visibilidade ao amor já pré-existente entre eles. Além disso, poderão sistematicamente saber como direcionarem os passos que serão necessários serem dados nesta jornada para chegarem à tal vinculação amorosa tão desejada.
Enquanto ainda presos aos “Diálogos do Demônio“, os parceiros falarão a língua do apego – uma linguagem infantilizada, calcada em uma necessidade desesperada de obterem, um do outro, alguma resposta emocional que os permita dar fim ao eterno ciclo vicioso de culpabilização e de medo desesperado de serem rejeitados e virem a perder seus amados – ciclo esse que sempre termina em retiradas, sejam estas, emocionais, ou divórcios de fato.
Através do uso desse novo “mapa”, os parceiros poderão compreender melhor seus próprios anseios não proferidos e todos aqueles seus medos aparentemente “irracionais”. Poderão, então, vincular-se entre si de uma maneira mais produtiva, segura e desejável.
Haverá alívio saberem que não há nada de “errado”, sequer “imaturo”, sobre estes seus anseios e medos. Não mais precisarão ocultar ou desconsiderar esses seus sentimentos.
Ao contrário, aprenderão a considerá-los como sendo a mola-mestra que agora já detêm, para atingirem parcerias cada vez mais seguras, confiáveis, duradouras e estáveis.
Exercício:
Tentar responder à pergunta metafórica a seguir: “Quando você está meio a um conflito com o seu parceiro(a), qual verso bíblico você estaria mais inclinado a fazer uso, para relembrá-lo(a) e tentar mostrar a ele(a) a sua própria versão da “verdade?”
- “Quando ficarem irados, não pequem. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha.” (Efésios, 4:26)
- ”Precisamos resolver isso já!.”
- “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Mateus, 5:9)
- ”Porque não deixamos tudo isso para lá e vamos em frente?”
(Artigo editado através do uso do StackEdit).