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Passo #1: O Renascimento
A partir das cinzas do passado uma nova vida poderá surgir
– Águia Branca
Conforme ocasionalmente vão decorrendo anos repletos de vontades doentias e de criticismos, de conflitos não resolvidos e de desapontamentos que se amontoam, podemos olhar a nossa volta e nos sentir como se estivéssemos sob uma pilha de ferro-velho que jamais poderá ser reaproveitada. Achamos que fazer isso seria entrar em uma batalha de vida-ou-morte sem que haja chance alguma de que alguém dentre nós, saia vencedor.
Então, nos vemos exaustos e prontos para nos rendermos. O dano é irreversível e já não existe fé suficiente, sequer, boa vontade, para reverter tal situação.
A ilusão do Amor Romântico abriu caminho para o desespero! O fogo da paixão chegou à fase final das cinzas. E a única saída que vislumbramos, nos parece ser caminharmos para bem longe de toda essa descabida e desnecessária confusão.
Paradoxalmente, no entanto, essa batalha de vida-ou-morte é, de fato, algo que nos será necessário atravessar para poder deixar, cada vez mais clara, a dissolução dos velhos hábitos e abrir vistas para um glorioso renascimento.
Só mesmo ao perseverarmos no enfrentamento de nossos mais ferozes e atemorizantes conflitos é que nos elegeremos a nos tornar aptos a exorcizar os demônios que, na grande maioria das vezes, vêm nos acompanhando por toda uma existência e, então, poderemos resurgir “do outro lado” – vivos, vitais e integrados.
Conforme nosso passado for se ardendo em chamas, serão as cinzas de tudo aquilo, que fertilizarão e nutrirão nosso solo com uma nova energia de vida.
Confiar neste processo é honrar o ciclo da vida!
Exercício:
- Negocie com o seu parceiro(a) sobre a intenção de criarem um novo tipo de relacionamento para vocês.
- Juntos, identifiquem pelo menos três qualidades que ambos desejam ver brotarem neste seu revitalizado relacionamento.
- Descrevam isso em um Diário Pessoal que os acompanhe nesta nova jornada.
Afirmação:
Eu abro meu espírito neste tempo de renovação. Nele, eu acesso mais coragem e mais força para vasculhar os nossos conflitos com a esperança de renascermos.
Eu foco meus pensamentos e sentimentos nesta sabedoria: “Só quando o fogo já houver sido reduzido a cinzas é que o fênix poderá ressurgir delas”.
Passo #2: A Jornada
É muito bom termos o vislumbre do final de uma longa jornada, no entanto, o que realmente importa é a própria jornada.
– Ursula Le Guin
Caso houvesse nascido 200 anos atrás, você certamente casaria por intermédio de um arranjo encontrado por seu pais.
Seriam eles os responsáveis por encontrarem seu parceiro(a).
No entanto, no decorrer do século passado, o casamente modificou-se radicalmente. Aquilo que era uma instituição que dava sentido econômico-social tornou-se, hoje, uma poderosa jornada espiritual e psicológica que traz consigo o potencial de agregar autoconhecimento e crescimento pessoal aos indivíduos que nela adentram.
Essa jornada na direção de desenvolvermos relacionamentos conscientes pode nos oferecer o tipo de intimidade que sonhamos. Pode trazer-nos a restauração de nossa completude e de nosso senso de conectividade com o mundo à nossa volta.
Caso decidamos nos manter neste caminho mesmo durante os tempos mais difíceis; caso estejamos dispostos a trabalhar os conflitos que surgirem e polirmos mais e mais a capacidade de superação de nossas resistências e de lidar com os nossos aborrecimentos, o processo, por si só, se transformará na terapia que precisamos para chegarmos à nossa tão desejada “cura”.
A atenção dedicada dia-após-dia; o aprendizado contínuo sobre o nosso(a) parceiro(a); o reconhecimento de cada ato, de cada atitude de carinho que recebemos dele(a); cada conflito resolvido; cada pequeno passo dado na direção do autoconhecimento que for acontecendo a cada um de nós; cada pequena atitude de persistir e perseverar, de dar mais e mais abertura, de focar na cura, acabará por remover mais uma camada de nossas defesas e fará com que nos sintamos cada vez mais seguros e confiantes na presença um do outro.
É isso que nos remete e aproxima da essência do Amor Real.
Exercício:
Repense seu relacionamento como se fosse uma jornada contínua e, não mais, como um estado imutável e estático!
- Imagine como você poderá tornar esta jornada segura. Tanto para você quanto para seu parceiro(a).
- Considere a possibilidade, ainda hoje, de vir a fazer algo especialmente carinhoso para seu parceiro(a).
- Sentem-se um ao lado do outro no mínimo por dez minutos para conversarem aquietadamente, darem algumas risadas e “declararem morte” aos seus desnecessários criticismos.
Afirmação:
Ao entrar neste meu tempo de quietude, eu vejo agora o meu relacionamento como sendo uma jornada que me levará na direção de alcançar o Amor Real que tanto desejo. Eu sustento este pensamento como se fosse uma prece: “É por ser dado o primeiro passo, que toda longa jornada se inicia”.
Passo #3: O Caminho Espiritual
A alegria é o mais infalível sinal da presença de Deus.
– Pierre Teilhard de Chardin
O desejo de nos sentirmos relaxados e seguros no mundo é universal.
Cada cultura tem sua própria versão sobre o mito de um lugar idílico de paz e de abundância, onde todos os seres vivam em harmonia – o “Jardim o Éden“, o “Nirvana“, o “Eldorado“.
E cada cultura também fala sobre a perda deste tal lugar – uma perturbação; a queda desse tão desejado “estado-de-graça“; um cataclismo qualquer.
E quase sempre será a partir daí, que começaremos a jornada para retornarmos ao tal “Paraíso“.
Todas essas são claras metáforas sobre a aspiração universal de reconquistarmos a alegria e a completude inatas dais quais a maioria de nós ainda guarda resquícios de lembrança do tempo seguro e desapegado “vivido” durante o período da nossa gestação.
Tradicionalmente, as religiões vêm sendo a trajetória mais utilizada para chegarmos a obter esta reconquista, já que muitas pessoas são vistas revitalizando seus espíritos por intermédio da oração, da devoção e das boas ações.
E, no século passado – após o reconhecimento do “poder do inconsciente“ – algumas pessoas também se voltaram à direção da psicoterapia para resolverem suas dores e alienações.
Atualmente, no entanto, através da vivência aprofundada que é trazida pelos nossos relacionamentos mais íntimos e compromissados, já podemos reconhecer que adquirimos o poder de nos elegermos a um propósito ainda mais abrangente e que pode vir a tornar-se a terceira estrutura que também nos remeta à cura e ao tão desejado estado de completude.
Logo, a luta travada na direção de atingirmos um relacionamento consciente também pode ser vista como um Caminho Espiritual profundamente vital, pois tem o potencial de restaurar nossa alegria original – a nossa completude; os nossos sentimentos de conexão com as outras pessoas e com tudo o mais!
Exercício:
Revendo seu Diário Pessoal, tente lembrar-se de dois ou três momentos nos quais você tenha sentido verdadeira alegria, mesmo que apenas por alguns breves instantes, na companhia de seu parceiro(a). Procure partilhar suas memorias sobre esses momentos com seu parceiro(a).
Afirmação:
Por vinte minutos, no mínimo, eu me remeto ao meu lugar interno de profunda quietude e começo a cultivar o meu próprio conceito de estar em meu “Jardim do Éden“.
E, ao fazê-lo, celebro essa realidade espiritual: “O amor é a restauração de meu Paraíso Interno”.
Passo #4: Restabelecer o Acesso a Quem Sou Eu?
Embora na grande maioria das vezes não possamos descrever exatamente, o tempo que antecedeu nosso nascimento serviu para que vivenciássemos uma realidade maravilhosa: Nós nos sentíamos “completos”.
Provavelmente tínhamos um senso de alegria relaxado e um sentimento de interconexão com toda a trama do universo.
Então, o que foi que nos aconteceu? Por que não mais nos sentimos desta forma, agora?
Bem, nós tivemos pais que – como todos os pais – foram imperfeitos e machucados por suas próprias vivências pessoais no decorrer de suas vidas.
Mesmo com a melhor das intenções, eles nos repassaram a resultante de seus próprios ferimentos emocionais.
Assim, agora, já amedrontados e também feridos, nossa energia primal não mais fluirá livremente. Já não mais nos sentimos completos.
Temos medo de dar risadas, nos tornamos inibidos para dançar e cantar e nem mais sabemos como expressar direta e apropriadamente toda a raiva que ocasionalmente sentimos.
E, por havermos desistido de mudar tudo isso, acabamos por perder contato com estas importantes partes de nós mesmos.
Mas o é que tudo isso tem a ver com os nossos relacionamentos mais íntimos?
Ora, por estarmos feridos, nos tornamos absortos a nós mesmos e às nossas dores. Perdemos consciência da nossa conexão com a “trama real” daquilo tudo a que realmente pertencemos!
Mas será também no curso da jornada através de nosso relacionamento mais íntimo, que podemos recuperar o senso de vitalidade que sempre foi nosso direito inato.
Então, poderemos, talvez, reparar esta conexão perdida e, portanto, curar não somente nós mesmos, mas, também, a ferida que foi deixada para com a nossa própria natureza.
Exercício:
Peça que seu parceiro(a) faça este exercício com você:
- Escolham um local agradável e iluminado pela luz do sol, preferencialmente ao ar livre.
- Fiquem de pé, um de frente ao outro, sentindo-se bem sustentados sobre seus pés, que então, estarão separados aproximadamente pela mesma largura de seus ombros. Deixem seus braços relaxados, pendendo por ambos os lados de seu corpo.
- Quando ambos já se sentirem suficientemente relaxados, tente entrar em contato com as batidas do seu próprio coração.
- Em seguida, tentem entrar também em contato com as batidas do coração do parceiro(a), seja tocando o pulso de seu parceiro(a), seja, ambos, colocando suas mãos respectivamente no peito um do outro. Sintam as pulsações rítmicas acontecendo. Permaneçam assim por alguns instantes.
- Então, olhem para a luz do sol e imaginem o fato de que vocês e o sol são feitos desta mesma energia pulsante.
- Partilhem suas sensações e pensamentos. Façam anotações de suas experiências em seu Diário Pessoal.
Afirmação:
Neste meu momento de quietude, eu vejo a essência de minha vida como sendo uma pequena parte da complexa trama que existe entre todos os seres. Eu expando meu foco e, assim, me permito ver minha vida interconectada e enriquecendo toda essa trama vital.
Então, alegremente, ponho foco nessas palavras: “Eu sou UM com todo o Universo”.
Preparado por Nelson Simas Costa e Égle Filiaci,
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